quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Filosofia do Lobo



Nunca deixes nas mãos dos teus amigos ou das tuas amantes armas que se possam voltar contra ti. Como a amizade e o amor têm de acabar, durante as tuas relações com o amigo ou com a amante, reune tu também provas da sua malícia e da sua desonestidade. Um dia, quando procurarem ferir-te, terás com que ferir. A mulher que abandonas ou que te abandona, torna-se tua inimiga; como todas as mulheres são fracas, mesmo as que não se fazem pagar, ela passará ao novo amante, entre duas noites, as confidências que tu, no maior segredo, entre uma noite e outra lhe tiveres feito.
E a mulher age assim de boa fé, porque é sempre o último homem o que ela julga digno do seu amor, o que julga amar. Se a interrogares sobre qualquer dos amantes que te precederam, ainda que por ele tenha tentado suicidar-se, responderá: «Não o amava. Julgava amá-lo.»
Nunca faças favores a ninguém. Lembra-te de que os favores se expiam. Se alguém te pedir a indicação de uma rua, dirige-o para o lado oposto; se te perguntar as horas, diz-lhe quarenta e cinco minutos menos, e com isso o farás perder o comboio.
Odeia o teu próximo como te amas a ti mesmo; e não esqueças que a vingança é uma admirável válvula de segurança para a nossa dor. Se alguém te ofende, não perdoes., Finge que perdoas, a fim de que a tua vingança o fira inesperada e em cheio.
Não te inflames por uma ideia. Os que se fazem matar por uma ideia são burros. Quem está verdadeiramente convencido da bondade da própria ideia, não gasta um centímetro cúbico de talento para demonstrá-la aos outros. Inteligente não é o que se faz matar por uma ideia, mas o que não lhe dá importância. Acredita-me: uma boa digestão vale mais que todas as ideias da humanidade.
Por outro lado, que são as ideias? Que há mais relativo que a ideia? O homem é um traidor ou um mártir, segundo se olha para ele de um lado ou outro da fronteira. A mulher é um «tesouro» quando está na cama do amante; mas se o marido entra, torna-se uma «prostituta».
Não te enamores nunca das palavras altissonantes. O belo gesto serve quase sempre para mascarar uma inferioridade ou uma incapacidade. Cornélia, mãe dos Gracos, à amiga que com faceirice lhe mostrava braceletes e colares, apresentou os próprios filhos, dizendo: «Aqui estão as minhas jóias.» Pois bem, se Cornélia, mãe dos Gracos, tivesse anéis e cadeias mais ricas do que as da amiga, não faria por certo o rodeio de mostrar-lhe os garotos.
A mãe espartana que sacrificava o filho à pátria devia ser uma rameira qualquer, que se queria libertar dele para mais comodamente desempenhar o seu ofício. A mãe que ama o filho, quer é que o filho se salve. Para mim é uma boa mãe, uma autêntica mãe, a que se preocupa com isso.
Durante as guerras, os que põem bandeiras nas janelas nem sempre são os que dão mais sangue ou dinheiro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

a Filosofia do Lobo - e o Ciúme


SUCEDE-NOS algumas vezes encontrar aquela que foi nossa amante por uma hora ou por um mês sem quase nos lembrarmos de haver ela participado connosco da solene cerimónia, a importantíssima cerimónia que devia automaticamente irromper em nossa memória. Aquele acto foi, então, de tão pouca importância? Em nós nada ficou, da sua carne, da sua electricidade, da sua respiração ofegante?! Nada! Apenas realizado aquele acto, recomeçamos a conversar, enquanto ela recompunha a «toilette» desfeita, sobre coisas estranhas e indiferentes. Aquela função não deixara portanto em nós um sabor mais forte que o deixado na boca por um cigarro, depois de o largarmos no cinzeiro. No entanto, se viéssemos a saber que a nossa amante em exercício, a amante de hoje, pertenceu, embora por cinco minutos, a outro homem, experimentaríamos, mesmo anos depois, uma dor intolerável. O acto a que ela se submetesse com outro afigurar-se-nos-ia uma contaminação indelével: como se o seu sangue se tornasse impuro, a sua carne adulterada irreparavelmente por aquele acto, por aquele mesmo acto de que quase não nos lembramos de haver praticado com a mulher que passa por nós, naquela rua.
O ciúme é uma febre que se origina em tola, infundada excitação do nosso cérebro irreflexivo. É um fenómeno de auto-sugestão.
A tua amante deitou-se numa cama em companhia de Ipsilon. Odeias Ipsilon e odeias a tua amante; tens sempre diante dos olhos a imagem da mulher e de ípsilon enlaçados, na prática do acto que é teu tormento imaginar.
Entretanto também tu, uma vez, enganaste a tua amante, para fazer, no leito da Sr.ª Z, o que ípsilon fez no leito da tua amante.
Pois bem, que ficou dessa Sr.ª Z, na tua pele, e na tua alma? Nada. Nada mais do que as carícias de Ipsilon podem ter deixado na pele da tua mulher.
Fenómeno auto-sugestivo, portanto. Queres uma prova? Se não vires aquele indivíduo, a tua imaginação o representará odioso, repugnante, repulsivo, e sentes que, se o encontrasses, o matarias.
Mas, se tiveres ocasião de lhe ver a fotografia, começarás a compreender que o podes olhar sem horror.
Se to apresentassem pessoalmente, acredita-me, ir-lhe-ias ao encontro com um cordial sorriso nos lábios, olhá-lo-ias de face sem estremecer, e se houvesses chegado ao meu grau de perfeição, serias também capaz de dar-lhe na barriga uma pancadinha jovial, dizendo-lhe: «É um belo rapaz! »
Com o raciocínio, com a educação, conseguiremos, em não remoto porvir, fazer os homens compreenderem o ilogismo dos ciúmes. Virá o dia em que as nossas graciosas crianças estarão preparadas para ser traídas e não sofrerão com isso, porque lhes aplicamos injecções de bom senso, vacinas anticornígenas.

O CIÚME é um fenómeno físico, glandular.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O LOBO e as mulheres que fumam...


O que noutros tempos era atrevido, agora é anacrónico, chato, provinciano, hipócrita. O que então parecia indecente, hoje é quase monacal. O valor das coisas depende do modo como se olha para elas. Recordo o barulho que houve em Londres por causa da primeira senhora que fumou em público. Queriam linchá-la. Agora quase todas fumam; e fazem bem: todas deviam fumar, que assim evitariam que os maridos suspeitassem do cheiro de outro homem nos seus lábios.

O que pensa o Lobo...claro..


terça-feira, 24 de novembro de 2009

O LOBO e a QUIMICA do AMOR...


O AMOR é devido, não à forma, mas à substância:
o amor é atracção física, afinidade química de dois organismos. A beleza em nada influi. A juventude não influi em nada. O espírito, o talento, a elegância, a honestidade, a traição não têm a mínima parte no magnetismo animal que faz um corpo sentir a necessidade de se completar com outro. Quando um homem e uma mulher, tendo-se encontrado num ponto do espaço, experimentam a necessidade imperiosa (digo necessidade imperiosa e não desejo distraído) de se unirem, isso quer dizer que no corpo «daquela» mulher existe um substância, a matéria,o produto químico que, com implacável ânsia, procura a substância, a matéria encerrada no corpo «daquele» homem.
Nem de outro modo se explicaria o desejo de certas mulheres belas por homens que todos, a começar por elas, acham horríveis, nem de outro modo se explicaria o amor doido de certos homens por mulheres feias ou gastas.
O amor eterno, isto é, a inextricável urdidura de uma vida em torno de outra vida, é o produto do encontro de um corpo em cujos tecidos existem aqueles metais e metalóldes que têm afinidade química pelos metais e metalóides que têm afinidade quimica pelos metais e metaloides de um determinado corpo do sexo oposto.
(Esta expressão fará rir os farmacêuticos, mas eu não me importo)
Os homens e as mulheres que se amam com um amor assim tenaz. podem, é verdade, praticar infidelidades com relação uns aos outros. Mas a aventura não é o amor; a cópula ocasional deixa intacta a paixão constante. Pode-se amar desesperadamente um homem e ir humedecer os lençóis de outro. A aventura não é mais que uma espécie um pouco refinada de masturbação, depois da qual, ainda que os sentidos tenham ficado extenuados, permanece inalterada a paixão da mulher pelo indivíduo que emulsionou estavelmente a própria vida com a sua vida.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O LOBO e....a NOITE...


A noite é a altura em que as pessoas se transformam.Na noite há um tirar de máscara em que quase tudo é permitido…De dia trabalhamos dentro de uma capa, de um estatuto. À noite, saímos da cápsula que nos abriga dos olhares. Os olhares da noite são permitidos. De noite podemos conhecer alguém com um olhar. De dia, se olhamos para alguém na rua, parece pretensioso. Na noite as coisas acontecem a uma velocidade cruzeiro.De dia a luz permite ver demasiado, à noite conseguimos ver aquilo que queremos.A noite tem uma duração imprevisível. Pode acabar no início, pode acabar a meia temperatura, pode acabar quente, pode também acabar ao primeiro raio da aurora. Mas a noite também pode ser o começo de algo.Quando alguém sai para a noite, sai para passar um bom bocado, mas nem sabe o que lhe espera. Durante o dia, saímos de casa sempre com os mesmos objectivos. De dia usamos relógio, à noite é um acessório de moda.O relógio do dia controla a vida. A noite controla os relógios da vida.Se dormimos bem – bom dia.Se dormimos mal – mau dia.Se passamos uma noite – bom dia, boa noite.
Se por um lado, tiramos a capa do estatuto que temos (ou não), por outro, temos a lua que nos deixa ver ou mostrar aquilo que queremos, pois na noite as pessoas são diferentes. Na noite as pessoas são reais.Não é no trabalho que conhecemos as pessoas, não é na rua, não é nos transportes… Conhecemos alguém… sem rosto, sem lua, sem máscara… na noite…Durante a noite os olhos brilham o que não durante o dia.Conhecemos bem a noite? Pensamos que a dominamos… ela domina-nos de uma forma subtil.Deixamo-nos levar pela noite… dentro ou fora… quem escolhe?A lua aclara os traços reais de uma face, mas esconde as máscaras do dia a dia.A noite, conselheira dos maus dias… Ombro de descanso.A noite, carregador de baterias… Poço de energias…Noite, lugar das loucuras. Noite, lugar de várias temperaturas…

domingo, 22 de novembro de 2009

A Lobo e ...a noite...


Na noite esvoaçam segredos que o dia mostra ao romper da aurora.
Traz cantos,encantos,segredos.
Ela traz amores,traz nos olhos,brilho de luar,histórias para contar,cantigas de adormecer!
A noite tem segredos,segredos dos amantes,dos errantes,dos bebados e dos loucos!
A noite tem segredos,dos anjos e de luzes...
A Escuridão!
A noite tem segredos dos que amam em silencio,dos que choram,dos que foram!

Eu também tenho segredos
Assim como a noite...
Segredos sepulcrais
Segredos de todos os amores do mundo...

sábado, 14 de novembro de 2009

a Filosofia do Lobo - e o amor à luz do dia...

NÃO sei por que razão os outros homens e as outras mulheres amam de noite, nos intervalos do tempo em que não há outra coisa que fazer. Fixam-se horas para coisas muito mais vulgares, como comer, e idiotas, como trabalhar. E ao amor, que é a coisa mais bela da vida, porque não destinam as horas mais belas do dia, como o meio-dia ou o crepúsculo? Detesto o amor nocturno.

É coisa para empregados, para operários, para maridos. Eu só aprecio o amor praticado à luz do dia, como um belo rito pagão. À noite, durmo. O amor e o sono são os nossos dois actos mais sublimes; por que há-de a prá­tica de um redundar em prejuízo do outro?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A filosofia do Lobo - e as reflexões sobre os seguidores..


Hoje a "Filosofia",como sempre, é dirigida a todos vós,que fazeis o favor de gostar dos disparates que digo,e a todos que também por aqui passam querendo mostrar aquilo que não são. Tambem aos que, em vez de escrever aqui o que lhes vai na alma,me mandam longas menssagens,via mail,insultando-me ou apresentando as suas teorias. A esses quero dizer que podem escrever directamente para o Blog,pois lhes garanto que nada será excluido do mesmo(trata-se de um blog aberto). Dedico o tema de hoje também aos que me ignoram de vez em quando, julgando que com isso me irritam... Sei que nem toda a gente tem pachorra para fazer longos comentários,é normal. Não se preocupem,eu tambem sou assim. Por outro lado,outros prefeririam que aqui publicasse versos idiotas ou lamechices. Nisso não alinho. Elogios fotocopiados,tipo «você é fantástico,ainda bem que apareceu»também dispenso. Há quem goste. Eu gosto dos seguidores que me contestam de frente,tenham ou não razão,gostem ou não,ou que sejam engraçados,ou irreverentes, do tipo "Continuando assim..." e quase todos os outros que sinto realmente como seguidores. Quanto aos comentários que faço nos vossos espaços,sei que são fraquinhos. Desculpem-me. Na realidade não o faço como gostaria.A verdade é que não tenho tempo e por vezes paciência. Não vos estou a menospresar,longe disso. Faço o que posso. E agora passemos ao tema de hoje..... -------------------------------------------------------------------------------------
...não é de se ficar de boca aberta saber que alguém roubou. O que mais admira é haver quem não roube. Já que em cada homem existe um ladrão em estado potencial, não vejo diferença alguma entre quem já roubou e quem vai ainda roubar. NÃO obstante a nossa falta de preconceitos ao avaliar os fenómenos da vida, quando somos tocados no nosso interesse ou no nosso afecto, reagimos energicamente, pondo-nos em contradição com a própria falta de preconceitos: após ter derrubado os ídolos, os instrumentos de tortura e as fórmulas hipócritas, curvamo-nos para os apanhar de novo quando precisamos de crer, de nos vingar, de mentir.
Podemos apreciar as mais audazes teorias sobre o amor livre e ver no adultério um fenómeno de compensação dos erros, mas se a mulher a quem amamos nos engana, insultamo-la ou a expulsamos de casa ou a matamos. Podemos sustentar que o filho do amor é tão digno de respeito como o filho legítimo, e rebelarmo-nos contra a sociedade que ultraja directa ou indirectamente o filho das ervas, mas se um filho de pai incógnito nos faz uma pequena desfeita, a primeira palavra que nos vem aos lábios é «bastardo». Pode-se ser um espírito honesto e iluminado como Emílio Zola, elevarmo-nos acima dos preconceitos de raça, e reconhecer que de Moisés a Charlie Chaplin os mais universais benfeitores da humanidade foram hebreus, mas se o dono da casa onde vivemos, que é israelita, não manda desentupir um cano, chamamos-lhe judeu.
OS homens que pouco ligam aos valores convencionais são socialmente perigosos, mas ninguém lança contra eles um brado de alarme, porque no Reino da Fantasia não há extradição. Em Genebra, diante do palácio da Sociedade das Nações- pensava eu - devia erigir-se um monumento a Esaú, o sublime despreocupado; nas cinco fachadas do pedestal, cinco altos-relevos: Diógenes, que, encolhido no fundo do tonel, convida Alexandre Magno a sair-lhe da frente para não lhe perturbar a helioterapia; Beethoven, que não tira o chapéu à passagem da família imperial; o filósofo grego Tímon, que antes de mandar derrubar uma figueira do seu jardim, em cujos galhos muitos atenienses se haviam enforcado, convida os diletantes do suicídio a aproveitarem os últimos dias; o poeta Heine que, em transe de morte, às exortações da mulher para que peça perdão a Deus, responde: «Ele há-de perdoar-me; é o seu ofício»; e pela satisfação de dizer um «bon mot», desafia as altas temperaturas do inferno. E finalmente aquele jovem senhor desconhecido, precocemente cansado da vida, que na carta ao chefe da polícia explica as razões do seu suicídio com estas cândidas palavras: «Trop de bouton à boutonner et à deboutonner»

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A filosofia do Lobo - ..e os conselhos aos incautos deste mundo...

Não creias nunca na amizade de uma mulher. Quando ela disser que sente amizade por ti, isso quer dizer que começa a amar-te ou já não te ama.
O amor é como um líquido posto a ferver. Mal pára de aquecer, começa a arrefecer. Mal a temperatura cessa de subir, começa a descer. Quando a mulher não te ama «cada dia mais», podes ficar certo de que te ama cada dia menos.
Grava no teu córtex cerebral que todas as mulheres são cruéis. Podes desejar uma até ao delírio, até à loucura, até ao suicídio. Ela, se não quiser entregar-se, recusará, ainda que tenhas de delirar, enlouquecer, morrer. E entregar-se-á a outro qualquer, mesmo que não lhe agrade, pelo capricho de entregar-se. E lembra-te de que, feitas as raras excepções de recusa obstinada, todas as mulheres se dão com grande facilidade, como aquelas amostras de perfume que as lojas de cosmética e perfumaria ofertam como publicidade.
O primeiro amor e a primeira blenorragia nunca se curam. Todos os sucessivos sim. Mas o primeiro deixa sinais para toda a vida.
Não indagues nunca do passado de nenhuma mulher. É melhor ignorá-lo. Deixa que tenha qualquer passado sujo, mas não procures descobri-lo. A torpeza e o mal só existem na medida em que os conhecemos.
Se receias que uma mulher te queira fazer dormir com ela, faz-lhe a corte. Ela, naturalmente, por boa educação, dá-se ares de repelir-te, ou, pelo menos, de resistir.
Tu, então, não insistas mais e some-te.
Ela, vendo que te retiras, corre atrás de ti, e então tu tens o prazer de a rejeitar; causando-lhe um duplo despeito, tens uma dupla satisfação, e poupas o desgosto de ires para a cama com a mulher que não te agrada.






segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O LOBO -..e os pensamentos doentios de uma noite sem luar...


Quero dizer-vos uma coisa... eu não sou o que aparento. A imagem que faço passar é apenas uma roupagem cuidadosamente tecida, que me defende das vossas perguntas e me protege da minha negligência. Meus amigos, o que eu sou mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.

Não quero que acreditem no que digo nem que confiem no que faço – pois as minhas palavras são os vossos próprios pensamentos em articulação e o que faço, as vossas próprias esperanças em ação. Quando dizeis: “O vento vem do Norte”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do Norte”, pois não quero que saibais que a minha mente não habita no Vento, mas nos Rios. Não podeis compreender os meus pensamentos, filhos das florestas da alma, nem eu gostaria que compreendesseis.

Preciso de estar só nas matas. Quando se faz dia convosco, é escuro dentro de mim. No entanto, mesmo assim falo do dia claro que dança sobre os montes e das sombras azuladas que se insinuam ao longo do vale: porque não conseguis ouvir as canções das minhas trevas nem ver as minhas asas,batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouçais nem vejais.

Gostaria de ficar a sós com a noite. Quando ascendeis ao vosso Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamais-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro virtual”, e eu respondo-vos: “Meus Amigos, Meus Companheiros Virtuais” – porque não gostaria que visseis o meu Inferno. A chama queimaria os vossos olhos, e a fumaça encheria as vossas narinas. E amo demais o meu Inferno para querer que o visiteis. Prefiro ficar sozinho no Inferno. Amais a Verdade, e a Beleza, e a Rectidão. E eu, por vossa causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me do vosso amor. Mas não gostaria que visseis o meu riso. Gosto de rir sozinho.

Meus Amigos, sois bons e cautelosos e sábios. Sois perfeitos – e eu também, falo convosco sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro a minha loucura. Prefiro ser louco sozinho: Meus Amigos, vós não sois meus Amigos, mas como vos farei compreender? O meu caminho não é o vosso caminho. Contudo... juntos marchamos, de mãos dadas.

sábado, 7 de novembro de 2009

O LOBO - ..e os amantes...


Aos dezoito anos pouco custa esquecer uma mulher: basta dar um passeio com outra. Mas quando se está no limiar da maturidade, a que mentirosamente chamam segunda juventude, o separar-se de uma amante é operação cruenta. Deu-nos demasiado de si e demasiado lhe comunicamos de nós mesmos para podermos readquirir inteira a nossa individualidade. A nossa voz tomou as inflexões da sua, os seus nervos sofreram a influência dos nossos; adoptou-se um mesmo vocabulário; deu-se na dela e na nossa carne uma recíproca polarização; os nossos dois corpos fundiram-se numa célula que, para quem nos julga, é um par, mas para nós mesmos é um núcleo indivisível. Não mais temos uma individualidade nossa: cada um dos nossos gestos está subordinado a ela; somos como uma pedra-íman inerte, que somente se anima quando é o fluido daquela mulher que a percorre o envolve. Todas as outras nos parecem seres assexuados, e se um dia, por um capricho de sensibilidade marginal, chegamos a possuí-las, conservam-se ainda estranhas, e convencem-nos mais uma vez de que estamos fatalmente encadeados à amante única, necessária, insubstitufvel.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O LOBO - ...e o D.JUAN....


OS homens afortunados com as mulheres são como certos hipnotizadores, que não conseguiriam hipnotizar sequer o comparsa, se não viessem anunciados pelo reclame, precedidos pela fama das suas pupilas fascinantes. Nesse complexo fenómeno de hipnose recíproca que é o amor, a auto-sugestão é a miúdo uma causa coadjuvante, às vezes causa eficiente. É raro que uma mulher resista à fascinação de um sedutor de grande classe, de um reconhecido Casanova. É raro que uma mulher, quando afronta milhares de quilómetros de comboio ou de avião para conhecer um músico ou um escritor que lhe abalou os nervos, sinta, ao vê-lo, que ele seja inferior ao que imaginara, e se lhe recuse. O D. Juan conquista a mulher que se segue em virtude da que a precedeu. Quando a série se rompe, acabou para ele. Pode dedicar-se à cultura do bicho-da-seda, à pesca a dinamite, à melhoria da raça de coelhos, mas não espere novas aventuras de amor.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O LOBO - ...e a Moral ...

A MORAL (estratificação sucessiva de leis económicas herdadas dos nossos avós, com todo o juro acumulado dos preconceitos, falsas interpretações, fanatismos, chinesices), a moral é como um binóculo de teatro:alonga-se, encurta-se, reduz e aumenta, alarga e restringe o campo, em obediência a uma rosca situada entre os dois canudos.Naquela rosca, que tem o poder mágico de deslocar as distâncias, os valores, os planos e as proporções, existem todas as coisas inerentes ao sexo.

A Moral não é mais que um conjunto de precon­ceitos, de dogmas e de mentiras hereditárias, aceites sem exame crítico, e os moralistas estão sempre de acordo sobre todos os pontos do preconceito e da mentira. Um moralista que criticasse um dos dogmas da imbecilidade humana sobre que se apoia a moral, seria um moralista encaminhado na estrada da verdade. Por outras pala­vras, apartar-se-ia daquelas hipocrisias a que se tem de entregar um moralista ortodoxo.



terça-feira, 3 de novembro de 2009

O LOBO - e a alegria de viver...


TER alegria de viver significa embriagar-se de harmonia, meditar sobre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, sobre o equilíbrio do universo. Aproximar umas das outras, no pensamento, coisas aparentemente remotas, contemplar as estrelas e pensar no átomo; o átomo, um núcleo carregado de electricidade positiva, em torno do qual gravitam os electrões: minúsculo e prodigioso sistema solar: um solzinho com um acompanhamento de planetas invisíveis à vista armada ou desarmada; os dois infinitos; o grande e o pequeno tocam-se, fazendo emergir a admirável unidade do mundo.
Pensar na célula humana, no protoplasma: microscópica e perfeita máquina eléctrica, que emite e recebe ondas; pensar em certos animais de um milímetro de comprimento, que contêm circuitos oscilantes, cujas espirais se alongam e se encurtam para regular o comprimento da onda.
Meditar sobre o equilíbrio do mundo. A Natureza grita continuamente às células, aos indivíduos, às raças, aos continentes, às opiniões, às teorias: «Circular, circular, é proibido parar». Adolescência, maturidade, velhice, morte, epidemias, guerras, terramotos, ilhas que se despedaçam, sóis que se apagam, não fazem mais que obedecer a esta ordem: «Circular!» A Natureza ordena: «Respirai: produzi ácido carbónico; para vós não serve mas as plantas precisam dele». E ordena às plantas: «Respirai: produzi oxigénio; para vós não serve mas serve para os homens». O vento ainda não arrancou todas as folhas secas, e já os primeiros rebentos surgem nos ramos.

domingo, 1 de novembro de 2009

O Lobo - e o dia de Finados..


Dia de Finados e a chuva Não existe uma explicação racional, mas na grande maioria das ocasiões, chove no Dia de Finados! Diz a lenda que... "chove nesse dia porque toda a tristeza das pessoas que perderam um ente querido sobe ao céu e desce em forma de chuva para lavar toda a mágoa de quem ficou”.

Sinto muita falta das pessoas que gostaria de ter por perto e não tenho. Hoje, definitivamente, é um dia triste e chove sempre nos dias tristes.

sábado, 31 de outubro de 2009

O LOBO - e a estupidez do Homem...


O CIÚME/A POUCA IMPORTÂNCIA DO ADULTÉRIO E A BURRICE DO HOMEM......


NÓS, que nos damos conta da nenhuma gravidade da traição, se fôssemos enganados sofreríamos como qualquer marido imbecil.
Sabemos que a adúltera engana com o corpo; mas todo o seu afecto continua com o homem a quem trai; sabemos que a mulher que se abandonou entre os braços de outro, voltará a nós exactamente imutável nos seus sentimentos e nos seus sentidos; mas a fera que vive em nós não admite razões.
O cérebro dá ao adultério o seu justo valor; se as culpas se medissem pelo sistema métrico decimal, o adultério deveria medir-se aos centimiligramas, como a estricnina. Mas o raciocínio do cérebro não age sobre os nervos que exprimentam, por automatismo, um único desejo: matar!
O homem céptico que dá ao adultério o seu justo peso, julga de acordo com uma estimativa sua, fruto de muitas outras estimativas suas. Mas, sobre os seus ombros pesam séculos e milénios de sentimento que sufocam as ideias rebeldes.
Através dos séculos transmitiu-se até nós o ciúme, como uma doença hereditária que a razão não consegue debelar. O homem ciumento que procura com sensatos raciocínios frear o próprio ciúme, é como um epiléptico que quizesse com o bom senso refrear as suas convulsões.
A desventura dos homens traídos consiste toda em saber que o são. Quem não conhece a própria infelicidade não é infeliz.


O homens têm ciúmes até das mulheres que ainda não amaram....

O LOBO

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Lobo - e a MULHER


OS homens formaram da mulher uma concepção convencional. Imaginaram a mulher de certo feitio, como as estrelas de cinco pontas e como os corações estilizados do naipe de copas. E por isso, quando a mulher se revela tal qual é na realidade, experimentam a decepção de quem vê num atlas astronómico e num compêndio de anatomia que nem as estrelas são figuras simétricas de lata, com cinco pontas, como nos presépios, nem o coração se parece com copas. O erro não é da mulher, mas do homem, que pretende que a mulher seja, não como é, mas como ele queria que fosse. A mulher é infiel, mentirosa, inconstante, poliandra. O homem obstina-se em querê-la sincera, constante, fiel a um só. Um ou outro caso esporádico legitimou o seu desejo. Mas, os casos excepcionais servem para confirmar a regra. Os poetas, os filósofos, os escritores, os analfabetos, têm cantado, pregado, escrito, tartamudeado que a mulher é infiel, que a mulher trai. Um rei escreve-o no vidro, com o diamante do seu anel; o músico repete-o no melodrama; as cançonetas populares não falam senão em infidelidades; já o escreveram em latim, em turco, em sânscrito, em chinês; os homens empregam noventa por cento das suas energias para seduzir a mulher de outrem e para impe¬dir que os outros seduzam a sua. As estatísticas dos suicídios dizem que, de cem homens que se suicidam, cinco fazem-no por neurastenia, dez por desvario, três por motivos diversos, e oitenta e dois por amor. As obras-primas do romance e as anedotas só para homens têm um único argumento: a infidelidade; que a mulher trai, cada um de nós aprende, repete, ensina; e no entanto todos os reveses provêm desse mal-entendido, que é tudo nas premissas: cada homem quer encontrar para si a excepção, e desespera-se quando percebe ter encontrado a regra. Sim, encontram-se alguns fenómenos isolados de fidelidade; mas, nem por isso devem ser invertidas as proporções e confundido o geral com o particular, substituído o um pelos noventa e nove. Seria como se um botânico teimasse em declarar que o trevo, o trifólio, tem quatro folhas. Insensato! É inútil proclamar que tem quatro folhas, quando o seu próprio nome diz que tem três, e todos estamos de acordo em dizer que o trifólio tem três folhas e que a mulher é infiel. Admito que algumas vezes se encontre um trevo com quatro folhas: mas, então, trata-se de um achado tão excepcional que a colocamos entre as páginas de um livro de versos ou entre os vidros de uma medalha. E se depois dá na telha de algum infeliz botânico querer que nos prados não haja senão quadrifólios, e se desepera, matando-se, porque só encontra trifólios, a culpa não é dos trifólios, mas do botânico!



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O LOBO - as mulheres honestas e as outras..


AS mulheres honestas alteram-se, deterioram-se com o decorrer dos anos.

Mas, as que passam de um namoro a uma aventura, de uma infidelidade acidental a um adultério continuado, não ficam feias. Vemos os seus maridos envelhecerem, engordarem, ficarem grisalhos; vemos os seus amantes desabotoarem o último botão do colete, e puxarem para as têmporas depenadas e desvastadas o chapéu que lhes oculta a calvície, mas as lindas senhoras elegantes não mudam jamais, porque o pecado, o prazer, o desejo de agradar, a vontade inflexível de ser bela as conservam.

Para conservar a beleza só existe uma forma de gi­nástica: o turismo amoroso, o excursionismo erótico.

Só as mulheres honestas envelhecem, murcham rapi­damente.

Certas senhoras muito formosas e muito livres de preconceitos têm-me mostrado fotografias suas tiradas há muitos anos, quando ainda eram fiéis, honestas, mo­nopolizadas pelo marido.

Que horror!

Mas, desde que procuraram acender desejos à sua passagem, desde que amaciaram a pele, cuidaram das mãos, tingiram e cortaram os cabelos, avivaram os lá­bios, educaram as sobrancelhas e pintaram as pálpebras de verde, desde que multiplicaram a sua sensualidade, rei­terando e variando os estímulos, ficaram belas como por encanto; realizaram o milagre de conservar-se bonitas e jovens, mostrando como é preferível uma cortesã de cinquenta anos a uma virgem de dezoito ou a uma mulher honesta de trinta e cinco.

As mulheres não fazem amor porque são belas; são belas porque fazem amor.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

as pinturas e o que pensa o dono do LOBO sobre o assunto...


Vão longe os tempos em que Ovídio aconselhava: «Não deformeis as orelhas com as pedras que o hindu cor de bronze recolhe do fundo do mar, nem ostenteis ricos vestidos pesados de ouro, porque com tanto luxo fareis fugir aquele que desejais atrair.» Hoje, no entanto, atraem-no de verdade, porque há sempre algum que espera encontrar, sob os ricos vestidos pesados de ouro, uma casadoira ou uma viúva de subarrendamento.
Para as jóias e roupas caras, descobriram-se sucedâneos baratos: o Pó de Arroz, os Cremes, as Bases(não percebo muito disto). Não sei de nada mais sedutor que um rosto bem pintado sobre um singelo «tailleur».
O truque esfuma a verdade,confunde os traços,torna imprecisas as formas,faz misteriosa a fisionomia.
As artistas que surgem nos palcos sepultadas sob um véu de pó de arroz e um raio de luz, têm a vantagem da imprecisão. O seu rosto, vemo-lo a nosso modo, segundo a nossa interpretação.
As mulheres que se pintam são interpretadas como livros simbólicos. As que não se pintam são abertas como livros comuns. Livros aborrecidos.
A pintura no rosto é como a meia de seda na perna: dá-lhe um encanto intenso; mas, se recebe um pequeno rasgão ... Acabou-se! Ai, se um pouco de vermelhidão passa do lábio ao queixo!
Maridos, amantes, desconfiai da mulher que volta para casa com os lábios sem baton. Isto quer dizer que a cor transmigrou da sua boca para a do outro.
Maridos, amantes, desconfiai da mulher que volta para os vossos braços com a boca pintada de modo desordenado e excessivo. Quer dizer que teve pressa em restaurar o rosto após uma devastação movimentada.
Desconfiai da mulher que volta para o ninho com os olhos sabiamente sombreados, com as faces escrupulosamente branqueadas, com os pómulos cobertos de vermelho na medida perfeita, com os lábios repassados com mão segura. Ela é uma enganadora fria: traiu-vos com serenidade, com ardor contido, com equilibrado entusiasmo.
Ela é a mais perigosa!
Amantes, maridos, desconfiai de todas as mulheres, pintem-se elas ou não.
Mas, não. Não desconfieis destas últimas, deixai que vos enganem. E procurai uma amante que conheça os segredos dos violetas, dos azuis, do «vieux rose» e do «henné». São tão numerosas na rua! Andam duas a duas, e parecem-se, porque ambas têm as trinta belezas de Helena.
Assemelham-se com tanta perfeição, e têm idades tão imprecisas que é imprudente e arriscado dizer-se a uma das duas:
-Não poderias livrar-te da chata da tua mãe?
Porque há o perigo de se ouvir, como resposta:

-É minha filha.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Lobo e a necessidade de amor...


Olá!

Hoje estou muito dado ao romantismo,e,embora já seja muito tarde,não quero deixar de vos escrever umas palavrinhas simpáticas...
Apetece-me divagar a propósito do Amor............
Acho que o pior corrosivo do Amor é a sinceridade.
«Mentir sempre» eis a divisa de um amante que queira ser amado.E não o confessar jámais,
pois a necessidade de amor é tanta neste mundo,que certas mulheres amam até o marido.

Não se zanguem...deve ser do sono...

O LObo

sábado, 24 de outubro de 2009

as sinusóides do Lobo ....



Esclarecimento


Esta explicação já foi dada por mim noutra "Filosofia" que alguns de vós conheceram.

Dado que algumas pessoas não gostaram do que escrevi,venho por este meio fazer um esclarecimento.
Não sou o Lobo Mau nem o São Gabriel..apenas encarno pessoas ,sentimentos e estados de espirito;hoje sou o Mau,amanhã sou o Santo;hoje sou um péssimista controlado,amanhã canto com a mesma intensidade com que me acabrunhei ontem.
Sou uma espécie de "fingidor" como o de Fernando Pessoa.Gosto de jogar com as situações de variadas formas;hoje de um angulo amanhã de outro.
A mesma situação vista de dois angulos diferentes transforma-se em duas situações distintas,e isso tem graça.
No fundo analizo os Homens e a Vida.À minha maneira.Adoro brincar com as palavras.Gosto de chocar.
Acabo por ser um sentimental,como voces,e nós,os sentimentais,quando fingimos chorar, choramos mesmo...
Mas minhas queridas amigas... sobretudo,não se preocupem excessivamente com as máximas que vos vou expondo,e não reflitam muito.Elas valem o que valem.Todos que antes de tomar uma resolução raciocinam,pesam medem,são sempre derrotados,como os que na roleta apontam os numeros que sairam e fazem cálculos e mais cálculos e,quando estão seguros do método,eis que meia volta a mais da bolinha de marfim manda para o diabo as suas previsões.
Penso que devemos estar gratos à vida,que de vez em quando nos concede um pretexto para mudarmos de horizonte.Parece que existe gente que nasce,ama,morre,na mesma cama;que por toda a vida pode suportar aquele tal calendário pendurado naquele prego,naquela parede.
Sinto-me amarrado à ponta de um fio que um ser invisivel faz rodar sobre a sua cabeça para me abandonar de um momento para outro à força centrifuga do seu capricho.

Boa noite meus amores,eu fico bem...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Considerações do LOBO sobre a Mulher desejada...


NINGUÉM conquista a mulher que quer. O amor é regulado pelo acaso, não pela vontade. A mulher que eu teria querido é a que estava com outro, num café, e da qual nem consegui atrair a atenção; é a que se sentava a meu lado, no teatro, e me deixou uns pêlos do seu arminho na manga do «smoking», e me agradou pela voz, ou por uma frase arguta, ou um adjectivo adivinhado, ou um silêncio inteligente. A mulher que eu teria querido é a desconhecida que me fitou e desapareceu: quando a revi, já não era ela. Creio no «coup de foudre», principalmente se o considerarmos uma pequena descarga eléctrica: às vezes certas mulheres electrizam-nos; seis meses após, já não o conseguem, porque algo mudou na corrente delas ou na nossa condutibilidade, ou porque outra mulher, entre nós, serve de corpo isolante ou intercepta a corrente. Conquistar a mulher que se deseja, significa conquistá-la nesse momento, e não depois. As mulheres que eu tive foram adoráveis, mas não foram as que eu quisera. A mulher que está em nossos braços e tem a boca a vinte centímetros da nossa boca, nunca é aquela que quiséramos, pois vinte centímetros é espaço demasiado pequeno para nele vogarem os nossos desejos ou para as trajectórias parabólicas da nossa fantasia.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

o LOBO e a mentira...


Todos mentimos.Os tolos mentem negando os factos ou alterando-lhes as circunstancias;isto é, mentem com o meio mais infantil:a mentira.Os inteligentes modificando-lhes o significado por meio da interpretação e do raciocinio.
A Moral e a Educação desaconcelham a mentira.E fazem bem,porque a pequena mentira de uso comum, passando continuamente de mão em mão, tornou-se uma coisa suja e vil;ao passo que a grande,a inteligente,a genial mentira é arte tão dificil que é preciso muita inteligência para a aprender.Para além disso as mentiras são meios de defesa, como as antitoxinas.
A mentira serve para guardar os tesouros do nosso pensamento e para cobrir as lacunas da nossa consciencia.O nosso próximo é tão miserável ao espreitar-nos para nos fazer mal pelas costas,que me parece mais que honesto faze-lo perder a nossa pista ocultando-lhe a verdade.
A mentira é uma arma de legitima defesa.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

..a ignorância do LOBO ...



Quando estou para chamar a alguem de ignorante,pergunto-me a mim mesmo pelo cadastro integral dos diálogos de Platão,ou pelo peso especifico do cloro,ou pelo ano da morte de Enstein;pergunto-me porque é que as lentes bicôncavas diminuem as imagens,ou como se acha o volume da esfera,ou onde passa a Corrente do Golfo;e então abstenho-me de julgamentos precipitados a respeito da ignorância alheia.Quando alguem me chama burro,desarmo-o com uma pergunta:«Desculpe,qual é a capital das Honduras?».Mas quando por minha vez,penso que uma pessoa é muito ignorante,folheio um livro de cultura para os pequenos de dez anos e - mortificante exercicio - constato,página a pagina,quantas são as coisas que não sei.
Se algum dia dissesse de alguem que é um cretino,pareceria achar que os outros eram inteligentes.
Ao contrário disso,só vejo,em torno de mim,gente que se mostra diferente do que é,expõe ideias que não tem,manifesta convicções que não são suas,faz belos gestos e diz belas frases para ocultar alguma deficiencia ou alguma inferioridade.

O LOBO

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O LOBO e as Vagabundagens....


Adoro os ingénuos.E procuro-os nas minhas vagabundagens;mas encontro poucos;as criaturas excepcionais tornaram-se tão comuns, que encontrar uma mulher comum é caso rarissimo ;todas tomam ares complicados,de cépticas.Os cépticos divertem-me por um momento;mas,depois do primeiro paradoxo não os tolero mais: o cepticismo parece-me ingenuidade mascarada, parece-me o alibi da ignorancia, e dá-me tanta pena como a miséria de casaca.Gosto dos ingénuos, dos primitivos,dos simples,que leem
presságios nas bolinhas do café,decifram o destino nas linhas da mão e ouvem o mugido dos oceanos no concavo de um búzio.Não posso suportar certas damas que ,ouvindo-as,julgamos que têm almas espirálicas ,psiques labirinticas, a tragédia de serem incompreendidas.E,no fundo,são umas pulhas.
Simpatizo por instinto com as minorias,com os fracos,com os que têm culpas,são tantas as pessoas que têm razão.

sábado, 17 de outubro de 2009

as Estrelas eo Lobo...


Se as estrelas pudessem ser interrogadas perguntar-lhes-ia se os poetas e os astrónomos não as importunam demasiado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O LOBO........e eu...


Era uma vez…um enorme lobo....
Os pelos desse lobo brilhavam como reluz a negra noite ponteada por estrelas, isto é: nem tanto a luz que delas parte, mas a necessidade da escuridão sem a qual elas não podem brilhar, como aquela frase estranha de Dumas à beira da morte - “vejo uma luz negra!”
Nunca, desse monstro se ouviu um uivo sequer; e quem escutou o seu rosnar , seguramente, não viveu para contar a história.
Vive numa imensa mata com raios de luz cortando sombras de árvores, no condensar e evaporar de ares.
Lá está ele, sentado sob uma pedra gigantesca, em absoluto silêncio.

Um dia surgiu o Lobo, temido por todos os homens de má vontade. Veio, calmamente, deitar-se ao lado de um estranho,que era eu, e depositar a sua mandíbula magnífica ao meu lado, quando ali meditava.
De mim, fiquem sabendo, tornou-se amigo pessoal, temos muito em comum,por vezes somos um só. Mas quem quer, mesmo, aproximar-se do Lobo, se for de não se perder de medo, tenha cuidado,não abuse da sorte, convém cautela, já aviso, porque a fera tem lá os seus dias de sangue quente,
Mas para uma visão criativa, sabedoria, acção, fidelidade, para se aprender coisas novas e um ensinamento do inconsciente... o lobo é o professor, o mestre.