quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Filosofia do Lobo



Nunca deixes nas mãos dos teus amigos ou das tuas amantes armas que se possam voltar contra ti. Como a amizade e o amor têm de acabar, durante as tuas relações com o amigo ou com a amante, reune tu também provas da sua malícia e da sua desonestidade. Um dia, quando procurarem ferir-te, terás com que ferir. A mulher que abandonas ou que te abandona, torna-se tua inimiga; como todas as mulheres são fracas, mesmo as que não se fazem pagar, ela passará ao novo amante, entre duas noites, as confidências que tu, no maior segredo, entre uma noite e outra lhe tiveres feito.
E a mulher age assim de boa fé, porque é sempre o último homem o que ela julga digno do seu amor, o que julga amar. Se a interrogares sobre qualquer dos amantes que te precederam, ainda que por ele tenha tentado suicidar-se, responderá: «Não o amava. Julgava amá-lo.»
Nunca faças favores a ninguém. Lembra-te de que os favores se expiam. Se alguém te pedir a indicação de uma rua, dirige-o para o lado oposto; se te perguntar as horas, diz-lhe quarenta e cinco minutos menos, e com isso o farás perder o comboio.
Odeia o teu próximo como te amas a ti mesmo; e não esqueças que a vingança é uma admirável válvula de segurança para a nossa dor. Se alguém te ofende, não perdoes., Finge que perdoas, a fim de que a tua vingança o fira inesperada e em cheio.
Não te inflames por uma ideia. Os que se fazem matar por uma ideia são burros. Quem está verdadeiramente convencido da bondade da própria ideia, não gasta um centímetro cúbico de talento para demonstrá-la aos outros. Inteligente não é o que se faz matar por uma ideia, mas o que não lhe dá importância. Acredita-me: uma boa digestão vale mais que todas as ideias da humanidade.
Por outro lado, que são as ideias? Que há mais relativo que a ideia? O homem é um traidor ou um mártir, segundo se olha para ele de um lado ou outro da fronteira. A mulher é um «tesouro» quando está na cama do amante; mas se o marido entra, torna-se uma «prostituta».
Não te enamores nunca das palavras altissonantes. O belo gesto serve quase sempre para mascarar uma inferioridade ou uma incapacidade. Cornélia, mãe dos Gracos, à amiga que com faceirice lhe mostrava braceletes e colares, apresentou os próprios filhos, dizendo: «Aqui estão as minhas jóias.» Pois bem, se Cornélia, mãe dos Gracos, tivesse anéis e cadeias mais ricas do que as da amiga, não faria por certo o rodeio de mostrar-lhe os garotos.
A mãe espartana que sacrificava o filho à pátria devia ser uma rameira qualquer, que se queria libertar dele para mais comodamente desempenhar o seu ofício. A mãe que ama o filho, quer é que o filho se salve. Para mim é uma boa mãe, uma autêntica mãe, a que se preocupa com isso.
Durante as guerras, os que põem bandeiras nas janelas nem sempre são os que dão mais sangue ou dinheiro.