O AMOR é devido, não à forma, mas à substância:
o amor é atracção física, afinidade química de dois organismos. A beleza em nada influi. A juventude não influi em nada. O espírito, o talento, a elegância, a honestidade, a traição não têm a mínima parte no magnetismo animal que faz um corpo sentir a necessidade de se completar com outro. Quando um homem e uma mulher, tendo-se encontrado num ponto do espaço, experimentam a necessidade imperiosa (digo necessidade imperiosa e não desejo distraído) de se unirem, isso quer dizer que no corpo «daquela» mulher existe um substância, a matéria,o produto químico que, com implacável ânsia, procura a substância, a matéria encerrada no corpo «daquele» homem.
Nem de outro modo se explicaria o desejo de certas mulheres belas por homens que todos, a começar por elas, acham horríveis, nem de outro modo se explicaria o amor doido de certos homens por mulheres feias ou gastas.
O amor eterno, isto é, a inextricável urdidura de uma vida em torno de outra vida, é o produto do encontro de um corpo em cujos tecidos existem aqueles metais e metalóldes que têm afinidade química pelos metais e metalóides que têm afinidade quimica pelos metais e metaloides de um determinado corpo do sexo oposto.
(Esta expressão fará rir os farmacêuticos, mas eu não me importo)
Os homens e as mulheres que se amam com um amor assim tenaz. podem, é verdade, praticar infidelidades com relação uns aos outros. Mas a aventura não é o amor; a cópula ocasional deixa intacta a paixão constante. Pode-se amar desesperadamente um homem e ir humedecer os lençóis de outro. A aventura não é mais que uma espécie um pouco refinada de masturbação, depois da qual, ainda que os sentidos tenham ficado extenuados, permanece inalterada a paixão da mulher pelo indivíduo que emulsionou estavelmente a própria vida com a sua vida.